terça-feira, 4 de maio de 2010

Freud

Matar o pai para ficar com a mãe? Será que alguma vez tal coisa me passou pela cabeça? Gostava de acreditar que a infância é a idade da inocência e que não nascemos com instintos assassinos. Pelo sim ou pelo não, vou trancar a porta do meu quarto à noite, não vá o meu filho ter ideias.

A mulher é um ser castrado que tem inveja do pénis do homem!? Gostava de acreditar que a mulher gosta do seu corpo tal como é e se sente bem com os seus atributos. Pelo sim ou pelo não vou esconder as facas lá em casa.

Foi por estas e por outras que Freud marcou profundamente o pensamento do século XX e continua a ser um dos homens mais discutidos da história das ideias. Ainda hoje estas teorias não são fáceis de engolir. Naquela sociedade vienense, moralista e conservadora não devem ter achado graça nenhuma, deve ter sido escândalo atrás de escândalo!

Como cientista, Freud pensou e teorizou sobre a natureza humana mas também observou e fez experiências com muitos seus pacientes. O facto de ter estudado os orgãos sexuais das enguias, já mostrava desde cedo, tendências estranhas. As pesquisas que fez com cocaína, em que ele próprio era a cobaia das suas experiências, também explicam muita coisa.

O mérito de ter aberto um novo continente (psicanálise) ninguém lhe tira. A possibilidade de termos um mundo subterrâneo inconsciente que não controlamos é assustadora. Torna-nos vulneráveis. Os preconceitos em relação à psicanálise ainda estão na ordem do dia. As pessoas não sabem lidar com a sua própria complexidade, nem com as zonas obscuras do seu eu. Se realmente o desejo sexual é a motivação determinante do comportamento humano também não abona muito a nosso favor. Esta nova visão da infância em que a criança é um perverso polimorfo arrasa com muitos ideais mais cómodos e pré-concebidos.

Mesmo que os seus méritos literários fossem melhores do que as suas descobertas científicas o património que Freud nos deixou é inesgotável. Temos um mundo fabuloso por explorar que é a nossa mente, mas é preciso ter coragem para fazer a viagem. O Auto conhecimento é determinante para a nossa felicidade.

O ser humano ainda tem um longo trabalho de divã pela frente.

Há por aí muito boa gente que nem com divã, só mesmo com internamento imediato!