quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Woody Allen

A humanidade está dividida em duas partes. Os que adoram o Woody Allen e os que o detestam. Não há meio termo. Eu pertenço à primeira parte.
Utilizo muitas vezes esta divisão para catalogar as pessoas. Fico sempre de pé atrás de quem não gosta do Woody Allen. Por mais espirituosos, inteligentes e simpáticos que sejam, se não gostam do WA é porque há qualquer coisa de errado nelas.
Passo um cheque em branco (artisticamente falando) a tudo o que tenha a sua assinatura. Mesmo as coisas sérias.
Como argumentista é imbatível. Os seus filmes valem principalmente pelo conteúdo, ao contrário da maioria do cinema americano que vale pela forma, pelos efeitos especiais e pelo show off visual. Não precisa de aviões a explodirem ou de tipos em chamas a atirarem-se de helicópteros. Bastam-lhe duas personagens à conversa num sofá.
A grande maioria dos americanos pertence à parte que o odeia. Nem é bem odiar, é mais não o perceber. Estão mais interessados nos hamburgueres e no basebol.
Já os europeus e principalmente os franceses (os campeões das neuroses) adoptaram-no como filho pródigo.
O mais fascinante neste judeu, caixa d'óculos, ruivo, sardento, pseudo intelectual, neurótico depressivo, é ter conseguido transformar os seus complexos e traumas em formas de arte. Ele expõe a sua vulnerabilidade, mostra as facetas, que todos temos, mas que normalmente tentamos esconder com a nossa vida. E essas atribulações psicológicas incomodam muita gente que não gosta de se rever no seu estado ridículo mais puro. WA lida com os seus problemas existenciais e com as suas angústias através do humor, os filmes funcionam para ele como uma espécie de catarse.
Aparentemente incompreensível é o sucesso que tem com as mulheres. Não só os seus personagens são mulherengos como na vida real são conhecidos os casos e casamentos com mulheres extraordinárias. De onde se conclui que quem as faça rir consegue levá-las para a cama.
No seu universo é difícil perceber onde acaba a ficção e começa a realidade. É tão genuíno que nem parece estar a representar. A sua própria vida parece um enredo de um dos seus argumentos. Os filmes do WA deixam sempre a sua marca e fico contente por saber que há tipos mais deprimentes do que eu.
Espero que dure muitos aninhos, que se inspire no Manuel de Oliveira (só na longevidade) e que continue a fazer muitos filmes. Pelo menos uma parte da humanidade agradece.

Em relação à caricatura, acabadinha de sair do forno de propósito para este blogue, é a primeira de uma série de restauros que pretendo fazer à bonecada publicada na revista MAGAZINE - Grande Informação. Enquanto estou de molho (sem guarida para publicar), aproveito para refazer os desenhos que acho estarem menos conseguidos (praticamente todos).

Não sei como se passa com os outros caricaturistas, mas eu tenho vergonha de alguns trabalhos mais antigos e ainda mais vergonha tenho do facto de algum dia os ter achado bem feitos.

A caricatura original, feita a guache, que saiu na revista, juntamente com o texto de cima, já passou do prazo. Muito estática, pouco expressiva, nada de novo trouxe ao mundo. Não ouso apresentá-la aqui. Mostro só esta versão melhorada.

Este segundo Woody Allen resultou de uma conversa que tive com um amigo meu ilustrador. Este meu amigo, bastante representativo da sua classe, calças roxas, ténis amarelos, piercing, cabelo à Morangos com Açucar, etc, está-me sempre a mandar à cara que o meu trabalho é demasiado clássico e académico, que tenho de acompanhar as novas tendências: “Tens de estar em sintonia com o superlativo conceptual” diz-me ele. “Com o quê?”, “Bacano, ouve-me esta cena, ou interpretas a diáspora visual, alternando o pragmatismo antagónico ou transcendes para o minimalismo vertical analítico” remata ele cheio de convicção. “Peraí que eu já te faço um boneco para acabares com essa conversa”.

E dessa conversa saiu esta versão.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Breves reflexões sobre o tema Carnaval

O Carnaval é como uma anedota. Somos obrigados a rir imenso e a divertir-nos imenso. Alguém inventou, um John Carnival qualquer, que nesta altura do ano temos que nos mascarar e atirar confettis à cabeça uns dos outros muito bem dispostos.
É como a imposição nos casamentros de se estar feliz da vida a dançar e a fazer comboios ou a obrigação dos brindes e abraços na passagem de ano.

Deixem as pessoas curtir as suas neuras em paz. Não venham para cá com folias carnavalescas.

São gordas com bigode, cheias de celulite, a tremer de frio enquanto sambam em cima de carros alegóricos em Estarreja, Ovar ou Torres Vedras; são pais orgulhosos a desfilarem os seus macaquinhos amestrados vestidos com fatos de cetim das lojas chinesas cheios de chumaços brilhantes e é o Alberto João Jardim, o único que parece genuinamente divertido, vestido de Zulu a tocar bombo.

O desenho é de 2001 mas continua a ser actual. Continuamos a imitar o Carnaval Carioca, tipo franshising de segunda, em pleno Inverno.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

FLOP PÁ!

O último post sobre o Sócrates foi um flop pá! Quando o soltei aqui no blogue estava com as expectativas altíssimas, esfregava as mãos de contentamento enquanto pensava para com os meus botões “Agora é que vão ser elas! Agora é que o engenheiro vai ouvir das boas”. Foi tudo meticulosamente preparado para ser um exemplar, higiénico e magnífico apedrejamento.

Mas só alguns aproveitaram a deixa e houve pouca afluência às urnas (sondagem). Pensei que fosse um problema no servidor, mas não, estava tudo a funcionar lindamente. Não foi por motivos técnicos que a coisa não pegou.

Assim não dá pá! Assim um gajo não tem motivação para continuar pá! Vou mas é acabar com esta treta pá! Isto dá uma trabalheira do caraças pá, organizar com todo o carinho um linchamento público para depois ninguém comparecer?! Porra pá!

Calma Pedro, não vás atrás das tuas emoções que já te trouxeram muito dissabores na vida. Respira fundo, lembra-te dos 7-1 e tenta dissecar racionalmente o que aconteceu.

Das duas uma:
ou o PM é uma criatura de tal maneira desinteressante que desmotiva qualquer um a participar ou está tudo de tal forma comprometido, conformado, resignado com a sua reeleição que mais vale estar calado e não fazer ondas, uma vez que não se arranja melhor no mercado.

Estou mais inclinado para a segunda hipótese. Ninguém tem dúvidas que as próximas eleições vão ser um passeio no parque.

Em jeito de coroação antecipada, aplico este cartoon aqui no blogue, já com uns aninhos, mas que, à excepção do Santana Lopes, até está bastante actual.

Ali vai ele todo contente, com o seu fato tecnológico, numa marcha triunfal, saltitando de nenúfar em nenúfar em direção à segunda maioria absoluta.

Agradeço aos participantes da sondagem: 16 desconfiam que o rapaz meteu dinheiro do Freeport ao bolso, enquanto 3 acham que as acusações não passam de uma cabala.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Porreiro pá!

Esta caricatura estava em trânsito, para ser lançada neste blogue, tipo ás de trunfo, na altura mais oportuna possível, no auge de uma polémica qualquer, de modo a que os comentaristas estivessem no ponto rebuçado prontos a avançar para um linchamento público. O caso Freeport foi a gota de água que faltava para desbloquear esta situação e que me fez avançar para este post com esta criatura.

O que eu quero é peixeirada e gritaria, como foi com o Bush, comentários inflamados, gente enraivecida com pedras na mão a despejar impropérios contra os Magalhães e afins e a organizar um assalto ao palácio de São Bento. Eu participarei com todo o gosto!

Aproveito a ocasião para fazer mais uma sondagem:

Este boneco foi feito para a já extinta MAGAZINE – Grande Informação mais este texto que segue de seguida, um pouco desactualizado, já lá vão quase 2 anos.

José Sócrates

É uma questão de tempo, para qualquer Primeiro Ministro, cair em desgraça. O processo é cíclico e o desfecho é sempre o mesmo. Os governos começam muito bem, cheios de genica, determinação, projectos e reformas. Mesmo não fazendo absolutamente nada, o PM e respectiva pandilha, gozam de um estado de graça inicial que o povo dá de bandeja. A táctica é que a presa (PM) se convença que tudo está a correr às mil maravilhas e que é amado e respeitado pelo Zé povinho. Só que nesse periodo sabático de ilusão, os mesmos que lhe dão rebuçados e pancadinhas nas costas, estão nas suas cavernas a afiar as garras.
Parece-me que o processo descendente já está em marcha. Foi aberta oficialmente a caça ao homem e José Sócrates já se encontra nos preliminares do seu enterro político. Esta história da licenciatura é como que uma cerimónia de abertura das hostilidades.
As habilitações literárias pouco claras foram o pretexto ideal, para se começar a atirar pedra e a fazer mossa na carapaça do Engenheiro… aliás do Senhor José Sócrates. É um motivo mesquinho, mas de suma importância no país dos doutores. Os portugueses são muito impressionáveis e susceptíveis no que toca ao canudo.
Ninguém é melhor ou pior profissional por ter acabado ou não o curso. Há muitos doutores encartados que são uma nulidade e muitos autodidactas superiormente competentes.
Este assunto é irrelevante. Se o PM fizesse alguma coisa pelo país até podia ter a quarta classe. É normal querer parecer mais do que aquilo que se é. Quando se tem pouco conteúdo investe-se na imagem e Sócrates é um caso típico de produto de marketing político. Até à data, antes do caso “Curriculum Vitae”, era um produto com muita saída no mercado. O pacote cheirava bem, o cabelo estava sempre impecável, as unhas muito bem arranjadas, e pelo bom aspecto o consumidor comprava-o por impulso.
Na verdade não tinha adversários à altura. A sua vitória foi um passeio no parque. Há muito tempo que as pessoas de bom senso desapareceram da política. Não estão para se queimar ou mesmo esturricar por um país ingovernável.
Antes do vento mudar, Sócrates sempre teve boa imprensa. O seu estilo tecnocrata lembrava os bons tempos do cavaquismo e caiu imediatamente no goto dos jornalistas. Distanciou-se do socialismo mais humanista do Guterres e aproximou-se do autoritarismo salazarento. Isto é que o povo gosta. Não queremos diálogo nem conversas, estamos formatados para o despotismo.
Mas foi com a questão do aborto que o meu voto neste senhor ficou hipotecado para sempre. O seu empenho pessoal nesta cruzada e a maneira como foi apresentado o problema com aquela pergunta armadilhada, revoltaram-me profundamente. As nossas divergências são irreconciliáveis.
Para a história fica como o homem que liberalizou o aborto. Espero que daqui a uns anos, quando formos uma sociedade mais civilizada, consigamos olhar para este periodo com distanciamento e nos apercebamos da barbaridade que foi cometida.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Les Aventures de Tintin

O Tintim está de parabéns, faz 80 anos!

Nasceu em 1929, no ano da grande crise, pela mão do belga francófono Hergé.

É espantosa a vivacidade que mantém passados estes anos todos. Está muito bem conservado, nem uma ruga para amostra. É a inveja de muitas tias. Sempre que leio os seus livros lá está ele com o seu ar impecável, cheio de genica a resolver mistérios, como se os anos não passassem. É por isso que gosto do Tintim, não envelhece, está sempre na prateleira, à minha espera e as histórias são sempre actuais. Nunca me canso de as ler. Se fosse um faraó levava comigo para o sarcófago toda a colecção.

É provavelmente o principal responsável por me ter desviado para outros caminhos que não uma carreira no mundo da advocacia. Com tantos advogados na família tinha naturalmente o destino traçado não fosse este jovem imberbe com um penacho na cabeça a despertar-me o interesse pelos livros aos quadradinhos. Em termos de BD foi o meu primeiro grande amor e não há amor como o primeiro.
Sempre me intrigou no Tintim a sua pureza moral. Ninguém pode ser assim tão imaculado. Por isso fui tentar descobrir o seu lado mais sombrio, mais perverso, mais decadente, sei lá, uma tara qualquer, um fetiche tipo espancar velhotas.
Procurei, pedi informações, vasculhei nos sítios mais recônditos mas não encontrei absolutamente nada de mal. Antes pelo contrário, o que descobri ainda me fez gostar mais dele. E não é que o Tintim é um fervoroso adepto do Sporting!? Ninguém sabia mas a imagem é peremptória. Além disso também não é grande adepto da ilustração de imprensa, prefere a BD e o cartoon. É cá dos meus!

O cartoon (BD) lá de cima fiz recentemente para a Exposição 80 Anos de Tintim que está no Museu Dr. Louzã Henriques, na Lousã até ao dia 15 de Fevereiro. Aconselhável a todos os tintinófilos!

Acabou a sondagem Bush. Foi renhido mas afinal parece que era mesmo um “Bad guy”. Assunto Bush encerrado. Obrigado aos participantes.