sábado, 24 de janeiro de 2009

Raphael Bordallo Pinheiro

A empresa de Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, Lda. vai fechar?! Parece que sim! Se fosse um banco era o fechavas! Agora como é só uma fábrica de cerâmica, (por sinal um estandarte da nossa cultura, uma referência das artes decorativas portuguesas, uma marca viva da nossa identidade) fecha-se!

Mais vale acabarmos, de uma vez por todas, com todos ícones da nossa história em vez de assistirmos, impávidos e serenos, a esta morte lenta.

Trocamos o Zé Povinho pelo palhaço da McDonald’s, o Vinho do Porto pela Coca-Cola, o Fado pelo Trash Metal, o Galo de Barcelos pelo Topo Giggio e esquecemos que alguma vez existimos enquanto país.

Aproveitamos esta onda de falências das marcas de Portugal e acabamos também com o Benfica e com FC Porto. Só o Sporting fica imune ao desaparecimento, uma vez que tem um nome mais internacional.

A nossa cultura está pela ruas da amargura. Salvem o Zé Povinho!

Este governo merecia receber como troféu outro tipo de louças, também das Caldas, mas com uma temática um bocado diferente, para ver se ganham vergonha! São todos uma cambada de patifes, biltres, mariolas, iconoclastas, esclavagistas, tecnocratas e antropopitecos! Já que abriram o precedente dos bancos, agora têm obrigação de injectar capital em todas as falências de Portugal.

Quando for a minha vez de falir, também vou lá pedir a minha parte. Têm de cobrir a minha incompetência da mesma maneira que cobriram a dos parasitas, velhacos, crápulas, poltrões, corsários, timoratos, necrófagos dos banqueiros.
Estes dois desenhos foram publicados agora em Janeiro de 2009 no suplemento humorítico Bronkit do jornal Trevim que a FECO PORTUGAL - Associação de Cartoonistas conseguiu ressuscitar passados uns anos. Já está a dar frutos esta associação da qual sou orgulhosamente sócio. Eu já tinha colaborado com esta publicação entre 2001 e 2004 antes de ter sido suspensa. Se quiserem saber mais sobre o Bronkit vão a http://www.humorgrafe.blogspot.com

A caricatura do Raphael Bordallo Pinheiro foi feita agora, propositadamente para o Bronkit. A do Fernando Pessoa e do Zé Povinho já é mais antiga mas adaptei-a ao tema desta publicação. Quando a fiz não estavam a ler o Bronkit mas outra coisa qualquer.

Apesar da mudança abrupta de tema, a sondagem do Bush continua!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sondagem Bush

Passei de Blog-ó-céptico a Blog-ó-freak.

Antes de me converter não percebia o fenómeno. Até tinha alguns anticorpos em relação à palavra blog. Estremecia sempre que a ouvia. “Mas o que é isto dos blogues de que toda a gente fala?!”

Mas aos poucos, pela calada da noite, serpenteando os caminhos do destino, a palavra… o poder da palavra blog, foi-se aninhando à minha beira.

No princípio não percebi muito bem o que se estava a passar comigo. Uma leve comichão de barriga inicial deu lugar ao reaparecimento de borbulhas passados 20 anos. Depois, gradualmente, deixei de me pentear. Pouco tempo depois foi a vez do banho, deixei de tomar. Encomendei uns óculos fundo de garrafa e já marquei consulta com o dentista para me pôr um aparelho.

Foi nessa altura que me caiu a moeda. Percebi que esta metamorfose kafkiana me transformou, não num insecto, mas sim num “nerd” da blogosfera.
Estou de tal maneira cromo em blogs, que até consegui colocar na barra lateral uma sondagem para os visitantes participarem.

Já que o último post do Obama versus Bush deu tanta algazarra nada melhor que uma pergunta muito básica ao jeito do Bush para desempatar a discussão. Até à data os comentaristas pró Bush estão em vantagem. Foram mais interventivos. Mas com este inquérito pretendo repor a verdade sobre o que é que as pessoas realmente pensam sobre este cowboy e sobre os seus 2 mandatos de terror. Peço desculpa por este último comentário. Não quero influenciar a votação. Também podem ir ao site http://bushbash.flashgressive.de/ praticarem a pontaria com o sapato.

Participem na sondagem!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Obama sim!

A tirada em Inglês é mesmo para inglês ver, para dar a ideia de cartoon “amuricano”, tipo New York Times. Sendo um tema internacional, aproveita-se a lingua dos “camones”.

Como é que é possível um americano de origem africana ter conquistado a sala oval? Com muito mérito, pois a cor de pele ainda é um handicap significativo. Para se conseguir esta proeza, tem de se ser muito superior a qualquer rival branco. Em pé de igualdade, em termos de habilitações, ganha sempre o branco.

Barack Obama é o resultado de um cruzamento entre um queniano escuro como a noite e uma americana do Kansas branca como a cal. Saiu-lhes na rifa um brilhante mestiço. Para os apologistas das raças puras aqui têm um bom exemplo de que os cruzamentos resultam e que os filhos de pais de cores diferentes são encantadores. Este exemplo devia ser um estímulo à misturada.

Aliás, todos nós somos fruto de um cruzamento qualquer, desde Adão e Eva que não há raças puras. Não estou a falar de cães, estou mesmo a falar de pessoas de carne e osso.

Não há o Deus dos africanos, o Deus dos chineses, o Deus dos sportinguistas; saimos todos da cabeça e da imaginação do mesmo criador. Temos a obrigação de respeitar a variedade.
O antecessor de Obama também deu uma grande ajuda: fez um trabalho tal por esse mundo fora que praticamente estendeu um tapete encarnado para o próximo candidato democrata ganhar à vontade fosse quem fosse.
Toda esta crise mundial, este caos, esta insegurança, este frio, a guerra no Iraque, o terrorismo, o problema do petróleo, a crise económica generalizada, o crédito mal parado, o Apito Dourado, a Casa Pia, são culpa de um só homem: George W. Bush.
Ainda há pouco tempo, num destes jantares de Natal em família, tive a infeliz ideia de comentar que não era um grande apreciador do ainda presidente (Bush). Resultado: um tio meu agarrou-me pelos colarinhos, encostou-me à parede e disse enfurecido:
– Tu não sabes o que dizes! O Bush fez o que tinha a fazer e muito bem! Um dia ainda lhe vais agradecer, a história far-lhe-á justiça. O Iraque está resolvido e pacificado! Foi brilhante a atenuar a crise económica. Por isso está calado! Vai-me mas é buscar uma rabanada!

Estes dois cartoons do Bush já são antigos, fui buscá-los ao baú. A história do tio é verídica e é recente.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Nicolas Sarkozy

Mais uma caricatura que foi publicada na MAGAZINE-GRANDE INFORMAÇÃO. Raramente fico satisfeito com um boneco. Acho sempre que podia ficar melhor. Mas este Sarkozy, apesar de encontrar alguns defeitos que não vou dizer quais, é dos bonecos que mais se aproximou do que pretendi fazer. Enviei-o para o World Press Cartoon e foi exposto juntamente com a nata do cartoon mundial. Também me permitiu assistir à cerimónia de entrega de prémios com o Rui Veloso a cantar, o Pedro Tochas e mais uns cómicos ingleses a fazerem macacadas. O texto está desactualizado, foi feito antes da Carla Bruni aparecer em cena. Mas aqui vai ele a título póstumo:

Sarkozy

Tomaram a Bastilha, decapitaram o rei, derramaram um mar de sangue e no fim sobraram três palavras... Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Três palavras difíceis de interiorizar e já lá vão mais de duzentos anos. Todos nós devíamos fazer revoluções francesas interiores com alguma regularidade e pôr em prática na nossa vida tão nobres ideais.
Tiro o chapéu aos franceses por terem acabado com o antigo regime e por teram dado início a uma nova era mais liberal apesar de andar por aí muita gente armada em absolutista.
A cultura francesa é ríquissima mas é redundante e perigoso fazer elogios a chauvinistas encartados. Por mais contributos que tenham dado à história da humanidade, a falta de modéstia deste povo irrita a vizinhança. Ninguém gosta de gente convencida. O reverso da medalha desta atitude tão egocêntrica é que vão perdendo influência no mundo. Estão em plena crise existencial, obcecados com o seu umbigo e a lamberem as feridas do passado (ainda não superaram o trauma da segunda guerra e da linha Maginot).
Os portugueses não morrem de amores pelos franceses e vice-versa. É como o fenómeno dos gatos. Imensa gente detesta gatos sem razão aparente. Esta embirração deve vir desde o tempo em que nos invadiram. Apesar de emigrarmos em catadupa para França está mais ou menos instituído um desprezo mútuo.
Mais recentemente no futebol, também temos motivos para não gostar dos gauleses. A selecção francesa é a nossa besta negra e despacham-nos sempre para fora das competições oficiais.
Quanto a este novo presidente que aparece agora em cena com grande pompa e circunstância, para além de ter uma boa cara para a cariacatura, (os cartunistas franceses adoram o modelo Sarkozy), ainda está muito verde para concluírmos se tem ou não apetência para o cargo. À primeira vista parece ser um tipo muito descontraído. Não me esqueço das imagens de um recente encontro entre o Cavaco Silva e o Sarkozy. Um parecia uma estátua que tinha engolido um pau de vassoura e o outro, tal era o “à vontade”, parecia um galã do cinema francês, tipo Jean Paul Belmondo.
O facto de ser ambicioso, hiperactivo e viciado em trabalho pode ajudá-lo a encarar o que o espera pela frente, mas colocarem-no na mesma categoria do Le Pen não augura nada de bom. Adoptou uma política dura em relação à imigração e chamou ralé aos jovens delinquentes dos subúrbios. Se for excessivamente rigoroso com os imigrantes, ele próprio, com a sua costela hungara, corre o risco de ser extraditado.
Mas já sabemos o que acontece às promessas antes das eleições. O poder seduz e transforma as pessoas. Os seus propósitos e intenções vão-se moldando ao sabor da escravatura da popularidade, dos media e da opinião pública. Para já, quem parece estar a dar cartas é a sua mulher, convertida recentemente em resgatadora de enfermeiras búlgaras. Esperemos que tenha alguma mão no marido e que o vá pondo no lugar sempre que for preciso.
Para já Sarkozy é notícia pelas férias principescas que tem tido. Tudo bem, cada um tira as férias que quiser. Mas não espere que alguém o leve a sério quando pedir sacrifícios ao povão.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Onde tudo começou II

Já contei, no segundo post deste blog, como é que começou a minha aventura no mundo dos cartoons. Agora vou contar como é que apareceu na minha vida, esta paixão mais ou menos recente, a caricatura.

Quando me perguntam o que é que eu faço e tento explicar, muitas vezes concluem “Ah, você é um caricaturista!?” Instintivamente refuto “É pá, calma aí, também não é preciso exagerar!”
Se for a passear na rua e alguém disser “Olha, vai ali um caricaturista!” mudo de passeio, acelero o passo e finjo que não é nada comigo.

A questão é que não me considero um caricaturista de corpo e alma apesar de estar a viver neste momento um romance tórrido com a caricatura. É uma amante à moda antiga, com casa montada, mas não sei quanto tempo é que vai durar esta relação… não é a mulher da minha vida.

Tudo começou em 2001 quando fiz esta caricatura para o XIV Salão Livre de Humor Nacional de Oeiras. Valeu-me uma Menção Honrosa na altura. Já tinha feito outras mas foi esta a que me despertou o interesse por esta modalidade, por isso considero-a a primeira. Em jeito de conclusão e para fechar esta conversa sobre amantes e paixões, posso dizer que a Madre Teresa de Calcutá foi o meu primeiro grande amor (caricaturisticamente falando).


Esta foi a segunda caricatura que fiz mais à séria, já em 2002. A primeira foi feita a guache e esta foi feita a lápis de cera de óleo. São 2 bonecos um bocado estáticos, feitos de frente, com o velho truque da cabeça grande e o corpo pequenino. Hoje em dia não as faria assim, mas fazem parte do meu percurso por isso há que ter orgulho.

Tive uma conversa há uns tempos com um amigo que pode ajudar a esclarecer melhor todas estas dúvidas existenciais.
Amigo - Que raio de conversa vem a ser esta sobre o cartoon, caricatura, ilustração… o que é que isso interessa?
Eu - A mim interessa-me definir-me como autor.
A - É uma palhaçada é o que é! "Serei cartoonista?... Serei caricaturista?..." Eu, eu, eu e mais eu, não sabes falar de mais nada para além de ti?!
E - A ideia é mesmo essa, isto é um blogue personalizado, tipo diário da Anne Frank mas sem a parte das fantasias sexuais, em que falo da minha carreira no mundo dos bonecos.
A - Mas afinal de contas o que é que tu és?
E - Sou um banda desenhista frustrado, um cartonista remediado, um caricaturista entusiasmado e um ilustrador obrigado.
A - Ó pá, tá mas é calado!

Esta conversa abalou a nossa amizade, mas ficou tudo sanado pelo Natal quando ele me ofereceu o DVD do Wall-E.